série pedofilia no esporte

OUÇA: a que sinais pais ou responsáveis devem estar atentos em caso de abusos sexuais de crianças e adolescentes

Naiôn Curcino e João Pedro Lamas

Foto: Renan Mattos (Diário)

SÉRIE PEDOFILIA NO ESPORTE

Olhando de fora, parece óbvio que qualquer tipo de violência contra crianças e adolescentes, ainda mais sexual, deve ser denunciada. No entanto, é preciso entender que a vítima é alguém vulnerável. 

Conforme psicólogos e policiais, o abusador é normalmente alguém próximo da vítima e que chantageia essa vítima fisicamente e psicologicamente.

O professor e pesquisador Jean Von Hohendorff, especializado na área, faz a ressalva de que é importante que se tenha consciência que a violência não gera uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas. Os sinais podem ser consequência de outro quadro. Logo, é necessário estar atento à criança.

- Mudanças bruscas de comportamento indicam que algo mudou. É necessário saber o que - diz.

Entre os sinais, estão se isolar, medo excessivo de um adulto ou evitar a presença de um adulto. Esses são alertas de que esse adulto pode ter feito alguma coisa que afetou essa criança. Essa coisa pode ser desde falar de uma maneira mais brusca, até a violência sexual.

A criança fica triste e ansiosa. Toma sustos frequentes, tem pesadelos durante a noite. Apresenta um comportamento hiperssexualizado.

- Temos nossa sexualidade desde o nascimento. É importante esclarecer isso, pois há uma confusão sobre o que sexualidade é. Crianças têm sexualidade. Não é como a dos adultos, claro. Mas diz respeito à forma como se lida com o corpo, desde a higiene até o prazer - explica.

Por volta dos 4 anos, crianças tendem a ter comportamento masturbatório, mas não é esperado que isso seja feito de forma excessiva. Além disso, referências são motivos para desconfiança, como a de penetração. Se a criança tem esse comportamento, de simular uma penetração de alguma forma, é possível que ela tenha tido contato com isso, seja pela televisão, internet ou na realidade.

Há ainda sinais físicos. No caso das meninas, pode haver corrimento vaginal. Também, ferimentos na região do ânus e doenças sexualmente transmissíveis. Mas esses sinais não se limitam à penetração no entanto. O abusador pode ter obrigado a criança a vê-la se masturbar, a lhe tocar por exemplo.

Em casos crônicos, que se estendem ao longo tempo, ocorre de os agressores só cometerem a penetração depois de perceber que essa criança confia neles.

Queda no rendimento escolar também é um dos sinais. Pode haver outras possibilidades, mas é um alerta.

Mariane Ilha, psicóloga que trabalhou durante um ano com as vítimas atendidas junto à DPCA, concorda. Após o abuso, o comportamento da vítima passa ser "muito diferente do que era antes".

- Ela está sujeita à maior sensibilidade, ao choro, à buscar o colo da mãe, se trancar no quarto, a não comer. São todos sintomas e os pais têm papel fundamental na identificação dessa circunstância - afirma.

O professor Hohendorff sinaliza que é importante que os pais tenham uma aproximação cuidadosa da criança no caso de suspeita de que qualquer coisa esteja acontecendo com ela.

- Dizer que notou que ela tá diferente. Que você está ali para ajudar. Que, qualquer coisa, pode contar para você - explica.

Mariane explica que isso é necessário porque muitas vezes a vítima não entende o que está acontecendo. Percebe que o que ela está sofrendo é errado, mas coloca a culpa em si. Por vergonha, por exemplo.

Hohendorff comenta que tocar na questão da sexualidade é um tabu na nossa sociedade. E a criança percebe isso, o que impõe uma barreira para que ela fale. 

OS AGRESSORES

Os estudos apontam que não há como dizer exatamente o que leva uma pessoa a abusar sexualmente de uma criança. Há "um conjunto de fatores".

Aqui, o professor Hohendorff sinaliza que é necessário diferenciar o agressor de quem tem um transtorno pedofílico.

- A mídia traz uma informação distorcida sobre o que é pedofilia. Não é um ato. É um transtorno mental conforme o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), da associação americana de psiquiatria - explica.

Esse manual caracteriza o pedófilo como uma pessoa maior de 16 anos que tem atração por crianças ou pré-púberes. Logo, isso não quer dizer que ela é uma agressora sexual. Ocorre de muitos terem o desejo, mas não abusarem sexualmente de uma criança - embora ter esse transtorno aumente a possibilidade de ela cometer a agressão. Homens são os mais diagnosticados.

Em contraste, ocorre de haver vários casos de abusadores que não têm o transtorno mental. O comportamento violento pode se dar devido à dificuldade em se relacionar, ter transtorno de personalidade antissocial e consumo de álcool e drogas. Em nível macrossocial, é importante sinalizar que vivemos em uma sociedade machista. Aprendemos, por discursos repetidos, que o homem é o provedor da casa, o chefe, que detém o poder sobre a mulher e a família, que tem que estar sempre pronto para o ato sexual - todos esses são todos fatores de risco.

Por essa razão, não surpreende que as maiores vítimas sejam do sexo feminino.

Mas o machismo diz que o "homem não pode deixar essa oportunidade passar". O consenso entre os entrevistados que essa ideia estereotipada de que o homem pode fazer o que quiser, e que a mulher tem que ser submissa, não for combatida, a sociedade vai perpetuar esse modelo e alimentar o ciclo de violência, afinal, ter sido vítima de diversos tipos de violência na infância aumentam as chances de essa vítima se tornar uma agressora quando chegar na vida adulta - que fará uso da violência nas suas interações.

É necessário denunciar. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que é obrigação notificar a suspeita. A denúncia garante que o caso será averiguado, protegendo a criança, que estão ingressará na rede de acolhimento se for o caso - uma rede de acolhimento que precisa funcionar.

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